domingo, 6 de junho de 2010

O velho das pilhas infinitas, rs.

Todos os dias, lá pras 18horas, eu subia a Consolação e ia em direção ao ponto de ônibus . Mas toda vez que eu passava na esquina da augusta com a paulista uma figura me chamava atenção.
Era um senhor de mais ou menos uns 50 e poucos anos, parecia um morador de rua, ou alguém bem pobre. Sempre acompanhado de seu cachorro e sua carrocinha de material reciclável, mas a coisa que mais me chamava atenção, é que todos os dias no mesmo horário, fazendo chuva ou sol, calor ou frio, ele estava lá em cima de um negócio de cimento que ele havia feito de palco, com um fone de ouvido e um radinho de pilhas na mão, dançando, no meio de toda a confusão de um horário de pico, no meio de pessoas com pressa, pessoas irritadas.
Confesso que muitas vezes eu passava com dor nos pés, dor de cabeça, irritada, com fome e tinha uma vontade bem grande de empurrar aquele "velinho maluco" que dançava e sorria olhando pro nada, de la de cima (parecia que a felicidade dele me incomodava). Nos dias que eu passava de bom humor, tinha vontade de perguntar onde ele compra as pilhas dele, ja que todos os dias ele está la dançando ao som do seu radinho.
Uma certa tarde ( em que eu estava de bom humor) cheguei bem perto dele e fiquei o observando.
Fones velhos cobriam os ouvidos com músicas que provavelmente estavam tocando nas rádios, olhar distante (porém não era um olhar vazio) fitavam o "nada" em meio a confusão da paulista, um sorriso meio desdentado (mas bem largo em seu rosto) e o corpo que se movimentava sempre no mesmo ritmo, na mesma vibe e não havia nada que fizesse ele parar de dançar, não dava pra negar, seus olhos mostravam que ele era alguém feliz.
Foi preciso 3 cutucões fortes na perna dele (juro que não estava tentando derruba-lo) para ele me olhar, indginado pois alguém havia atrapalhado a sua dança, ele ficou me encarando por uns 30 segundos antes de dizer:
- O que deseja minha jovem ?
Fiquei tentada a perguntar sobre as pilhas dele, mas queria conhecer um pouco mais daquela figura.
- Eu gostaria de saber, o por quê o senhor fica o dia todo ai, dançando.
- Eu fico aqui porque eu gosto oras, eu adoro dançar e depois de revirar lixo atras de papelão dia todo eu venho aqui.
Ele pois o fone novamente e voltou a dançar, fiquei mais uns dois minutos encarando aquela figura e tentando entender o que leva alguém ignorar o mundo, perder a vergonha e dançar no meio do "coração de são paulo"
Fui andando até o ponto de ônibus, mas minha mente continuava lá, na esquina da paulista com a augusta, aquele senhor, aquele cachorro, aquela dança.
Demorou um tempo pra eu perceber o que significava simplismente dançar, para aquele senhor, não importava o quanto as pessoas estavam andando de cara feia ao seu redor, o quanto o sol esquentava ou a chuva esfriava, em cima do seu palco improvisado, ele fazia algo que lhe dava prazer. Ele dançava, não ligava se alguém ficasse o encarando por horas, não ligava se seu rádio estava sem pilha, se o dia não estava tão bonito, ele simplismente fazia o que gostava.
E as vezes, no meio de tanta rotina normal, falta na gente um pouco do espirito do " velho das pilhas infinitas ", que transforma um cenário normal do cotidiano em palco para nossa dança. Falta na gente coragem de encarar o mundo que é cheio de pessoas mal humoradas (que morreriam de vontade de te empurrar) e subir em qualquer tipo de palco emprovisado pra simplismente fazer o que gosta. Mesmo que o que você goste seja a coisa mais bizarra do mundo (como dançar em pleno horário de pico na av paulista).
Não podemos viver do que é comodo, precisamos muitas vezes procurar a nossa esquina e encarar todo o mau humor do horario de pico e dançar, sem olhar pras pessoas que ficam indgnadas fitando os olhos na nossa dança, sem ouvir o som de fora, sem ligar pra nada, apenas dançar, com o olhar que é diatante mas não é vazio e um sorriso no rosto. Igualzinho o "velho das pilhas infintas"
Não existe hora nem lugar para ser feliz, escolha sua esquina e boa dança!

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