terça-feira, 22 de junho de 2010

Caixinha de música

Era uma cidadezinha interiorana localizada na Europa, lá fazia muito frio, e as pessoas costumavam ficar abrigadas em suas casas nos dias de inverno.
Outra caracteristica marcante dessa cidade eram as caixinhas de música. Lá se produziam as mais lindas caixinhas de música do mundo. Um trabalho completamente artesanal que precisava ser realizado no silêncio, cada pecinha milimetricamente calculada e colocada em seu lugar com muito amor e esmero.
E é apartir das caixinhas de música que minha história começa.
Era um dia muito frio, naquele ano o inverno estava mais rigoroso do que nunca.
Ao lado da minha casa, era a loja de caixinhas de música do meu avô e eu adorava ficar lá, passei minha infância inteira observando ele trabalhando com seus óculos fundo de garrafa pendurados na ponta do nariz, uma pinça na mão e arrumando cada detalhe de cada uma de suas caixinhas de música.
Aquele dia, eu havia completado 18 anos, mas não comemorei, pois quando acordei bem cedinho, fui ver meu avô em sua loja, e para a minha tristeza ele estava caído no chão, com seus óculos fundo de garrafa e sua pinça, estava sem cor, estava frio, estava sem vida.
Após alguns dias desde a sua morte, resolvi voltar a loja, aquelas caixinhas ainda me encantavam, resolvi dar corda em uma, a mais bonita da loja na minha opinião.
Ela era feita de madeira escura, tinha mais ou menos um palmo e meio, em cima dela uma bailarina, que ao terminar de dar corda, uma música de aspecto muito melancólico e triste embalava sua dança. Mas o que mais me chamava atenção nessa caixinha, era a expressão da bailarina, era triste, parecia frustrada, e quanto mais dava corda, mais triste ela parecia.
A imagem do rosto frustrado embalado por uma música extremamente triste ficou habtando meus pensamentos por dias, mas resolvi ver as outras caixinhas de música, dei corda em cada uma delas. Na que tinha dois cisneis que rodavam em circulos ao som de uma música que passava calma, na que tinha duas crianças em uma gangorra e era embalada ao som de uma música alegre, na que um casal dançava ao som de uma valsa. Era uma mais encantadora que a outra, mas sempre que me restava um tempo eu dava corda na bailarina triste.
Resolvi leva-la para casa, fiquei olhando, dei corda diversas vezes, notei que ela tinha um fundo falso, abri, e la continha um papel meio embolorado com um pequeno texto:
" A música que sempre embalou minhas danças, me deixa triste, sempre a mesma coisa, o maior prazer se torna um trabalho manual frio e monotono, onde a música só toca se alguém gira, gira, gira a pequena chavinha que dá corda, logo a música acaba e a pessoa cansa de girar, e a minha dança é esquecida.
Quero algo a mais, não só um pequeno ato mecânico que me mantém viva por uma fração de minuto, quero dançar ao som das mais belas canções, me liberte "

Eu estava completamente convencida de que não havia sido meu avô que tinha feito aquela caixinha, muito menos aquele texto.
Um dia, quando estava tirando pó da loja, um rapaz de olhos encantadores que me paralizaram no mesmo instante entrou e disse que estava procurando uma caixinha de música especifica, uma que tinha os olhos tristes de uma bailarina, eu sabia exatamente de que ele estava falando, peguei e entreguei a ele, no momento em que ele dava corda, a música não era mais triste, a dança não durou uma fração de minuto e a bailarina sorrio.
Aquela caixinha de música, era meu coração, ferido, que não suportava mais dançar por pequenos momentos e acabar sempre com a música melancólica e o semblante triste, ele queria mais, precisava de algo que tocasse lá no fundo, uma música que não parace, que não precisasse ficar dando corda.
Dessa vez ele havia encontrado , e a bailarina dançou as mais belas músicas por anos e anos.

2 comentários:

  1. " Quero algo a mais, não só um pequeno ato mecânico que me mantém viva por uma fração de minuto, quero dançar ao som das mais belas canções, me liberte "

    aaaaaaa !!
    Essa metáfora da caixinha de música foi linda!
    Vou ter que recuperar o ar pra ler o próximo texto. hahahahah
    Sem mais palavras;
    foda. =)

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  2. Que belo texto! Fiquei presa a ele por alguns instantes, ele nos faz parar e pensar em quantas vezes nos deixamos manipular por alguém que venha nos dar corda a chavinha! Parabéns poeta, sabes expressar bem tuas palavras igual aos sons que saem das caixinhas de musicas tão saudosas!

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